
Praça João Lisboa, sol das 8h queimando o juízo de Juca e Judith, sentados no mesmo banco de sempre. Judith ajeita os óculos, e Juca folheia um jornal velho do mês passado, só pra manter a pose.
JUCA: Judith, tu viu foi a performance da nossa vereadora gospel trumpista ontem na Cohama?
JUDITH: Ô meu filho, vi foi tudinho no grupo da tia Lurdinha! Reuniu uns oito gatos pingados aos pés daquela “estátua da liberdade” da loja… parecia mais um culto pra dólar baixar do que pra ajudar São Luís!
JUCA: E o tema era: “Orações pelos perseguidos políticos”. Só faltou dizer “Bolsonaro, nosso mártir do sofá de couro reclinável”.
JUDITH: Misericórdia! Enquanto o povo da Vila Esperança tá sem calçamento, a mulher tá lá de joelho por um ex-presidente em prisão domiciliar. É cada presepada…
JUCA: E ainda levou uma caixa de som emprestada da sobrinha pra fazer “buzinaço espiritual”. Quase converti pro budismo de raiva.
JUDITH: Disseram que ela chorou dizendo que “Trump é o Messias americano” e Bolsonaro o “irmão em Cristo”. Fiquei esperando ela citar a Rainha da Inglaterra e chamar de pastora também.
JUCA: Judith, vou te dizer… se rezar em loja resolvesse, eu já tinha era feito novena na Americanas pra minhas contas sumirem.
JUDITH: E tu reparou? Ela não tem um projeto de esgoto, de escola, de rua, de nada. Mas tem fé em Trump, em sanção econômica e em live com conexão ruim.
JUCA: Rapaz, São Luís não merece não. Enquanto isso, os buracos da cidade tão tudo parecendo cratera de filme do Syfy. Mas ela quer salvar o Brasil, né?
JUDITH: É… salvar o Brasil da calçada da loja. Agora só falta ela nomear a Estátua da Liberdade como secretária de Relações Internacionais de São Luís.
JUCA: Aí eu me mudo pro Paraguai e viro camelô de bonsai. É mais lógico.