
Juca e Judith sentados no banco da praça João Lisboa, em São Luís. Um calor danado, as árvores balançando preguiçosas, e um carrinho de milho passando com a buzina desafinada. Judith abana o rosto com seu leque, Juca lê o jornal dobrado.
JUCA (sacudindo o jornal):
Ô Judith, tu acredita que o Trump botou foi taxa nas coisas do Brasil de novo?
JUDITH (sem se abalar, assoprando o suor):
Uhum! e o que é que o cabra véi lá dos Estados Unidos tem contra nós? Ele nem sabe onde fica o Maranhão, homem!
JUCA:
Não sabe não… Se botar ele na Beira-Mar, ele pergunta se é o Caribe. Agora, o pior tu não sabe: tem brasileiro achando isso bom!
JUDITH (entortando a boca):
Bom?! Rapaz, tá todo mundo doido é? O povo tá com fome e ainda quer pagar mais caro na farinha?
JUCA:
Disseram que é tudo parte de um “plano divino” pra salvar o ex-presidente da cadeia. Que quanto mais cara as coisas ficarem, mais perto ele chega da redenção. Quase um São Sebastião do Planalto!
JUDITH (caindo na risada):
Ave Maria, Juca! O povo agora acha que taxação é obra do Espírito Santo, é?
JUCA:
É, mulher! E se o dólar subir, eles dizem “amém”. Até fizeram grupo no Zap só pra agradecer ao Trump. Um tal de “Jejum da Janta pela Liberdade”.
JUDITH (séria):
Mas já tão jejuando mesmo, é por necessidade. Me lembro que no governo desse ex, ia no mercado comprar um quilo de arroz… só dava pra trazer um saquinho de flocão e uma vela!
JUCA:
Pois é! E se tu reclamava, eles vinham com aquele papo: “É pelo Brasil!”
Mas o Brasil deles tem piscina e ar-condicionado. O nosso tem goteira e boleto vencido!
JUDITH:
Se patriotismo enchesse panela, Juca, a geladeira desse povo tava cheia. Mas olha lá: só tem gelo e a metade de um limão seco!
JUCA:
Judith, vou te dizer: a única coisa que o maranhense ainda tem de sobra é fé e paciência. Porque o resto, a vergonha já levou!
JUDITH:
E o juízo também, que eu tô achando! Agora vou ali comer um milho cozido antes que virem item de luxo também!
JUCA (levantando junto):
Bora logo, que depois ainda tem fila na lotérica e calor no ônibus. Viva o “Brasil acima de tudo”!
Eles saem caminhando rindo, enquanto o milho já custa R$7, e o vendedor avisa: “Aproveita que semana que vem vai pra dez!”