Em um movimento que surpreendeu parte da base bolsonarista e reorganizou o tabuleiro político na Câmara dos Deputados, o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), decidiu não pautar o requerimento de urgência para o projeto de lei que propõe anistia aos envolvidos nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023. A decisão, tomada após reunião com líderes partidários, reflete uma resistência ampla ao avanço do texto — com exceção das bancadas do PL e do Novo, que defendem celeridade na votação.
Motta alegou que o projeto ainda carece de amadurecimento e deve passar pelas comissões temáticas e pela Comissão de Constituição e Justiça antes de qualquer apreciação em plenário. Segundo ele, a maioria dos líderes, representando cerca de 400 parlamentares, manifestou-se contra a tramitação acelerada. A decisão também evidencia um reposicionamento da Câmara frente à pressão de setores conservadores, buscando preservar o equilíbrio institucional.
Em resposta, o PL anunciou o retorno da obstrução nas votações da Casa, prometendo utilizar todos os instrumentos regimentais para travar a pauta como forma de protesto. A estratégia mira reverter a decisão de Motta e forçar a análise do projeto, que tem como pano de fundo a tentativa de reabilitar politicamente apoiadores de Jair Bolsonaro condenados ou investigados pelos atos golpistas.
Nos bastidores, porém, novas articulações ganham força. Hugo Motta e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), iniciaram conversas sobre uma proposta alternativa: um novo projeto que não conceda anistia ampla, mas promova a individualização das penas com base no grau de participação dos envolvidos.
A movimentação revela uma tentativa de harmonizar os interesses políticos com a manutenção da institucionalidade democrática. Em tempos de alta polarização, Motta opta por cautela, evitando atropelos legislativos que poderiam incendiar ainda mais o já tensionado ambiente político de Brasília.
Enquanto isso, o projeto de anistia segue fora da pauta — mas longe de sair do jogo.