
Na manhã desta segunda-feira, uma mulher em busca de amparo na Casa da Mulher Brasileira passou por uma situação de constrangimento e desrespeito durante o atendimento na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, localizada no mesmo complexo. O caso revela falhas graves no acolhimento e estrutura oferecida pelo local, que deveria ser referência em proteção às vítimas de violência.
Após ser acolhida na recepção da Casa, a vítima foi encaminhada à delegacia, onde aguardou por horas na sala de espera, com dezenas de outras mulheres. Em determinado momento, uma delegada compareceu ao local e, em voz alta, perguntou a todas quais tipos de violência haviam sofrido — se física, psicológica, e se apresentavam hematomas — em frente a outras pessoas que também aguardavam atendimento.
“Me senti extremamente constrangida. Já é muito difícil estar ali, e ser exposta publicamente dessa forma, relatando algo tão íntimo e doloroso, é uma violência adicional”, relatou a vítima, que preferiu não se identificar.
Além da abordagem inadequada, a demora no atendimento tem sido outra constante no local. Mulheres aguardam por um dia inteiro para conseguir registrar um boletim de ocorrência ou falar com um profissional. Segundo relatos, não há um sistema de senhas ou triagem eficiente, e o atendimento segue uma lógica de espera indefinida, o que agrava ainda mais o sofrimento de quem procura ajuda.
Outro problema frequente é a instabilidade do sistema eletrônico utilizado pela delegacia. Em muitos casos, o registro de ocorrências e a emissão de documentos são interrompidos por falhas técnicas, o que contribui para a lentidão no atendimento e a frustração das vítimas.
A Casa da Mulher Brasileira foi criada com a proposta de oferecer acolhimento humanizado, integrado e eficiente às mulheres em situação de violência. No entanto, situações como essa evidenciam a distância entre o discurso institucional e a prática cotidiana.
Organizações e especialistas da área dos direitos das mulheres defendem que o acolhimento deve prezar pelo sigilo, respeito e escuta qualificada. “O momento de procurar ajuda é delicado, e o atendimento precisa ser sensível, empático e tecnicamente preparado para não causar ainda mais sofrimento”, alerta uma ativista da área.