A região do Mercado da Cohab, um dos pontos mais tradicionais de São Luís, vem se tornando cenário de preocupação crescente entre comerciantes e moradores. Nas últimas semanas, relatos apontam que grupos de usuários de drogas têm se concentrado de forma permanente nos arredores, configurando o que muitos já chamam de uma nova Cracolândia na capital maranhense.
O problema, que antes era pontual, ganhou força com a ocupação de praças e calçadas próximas ao mercado, especialmente durante a noite e nas primeiras horas da manhã. Segundo relatos de feirantes e frequentadores, é comum ver pessoas consumindo drogas em plena luz do dia, além de furtos, assaltos e conflitos entre os próprios usuários.
“A gente trabalha com medo. Eles ficam em grupos, mexem nas barracas, pedem dinheiro e, quando são contrariados, ameaçam os comerciantes”, contou Raimundo Ferreira, vendedor de frutas há mais de 20 anos no mercado.
Além do impacto na segurança, a Cracolândia da Cohab já começa a afastar clientes e reduzir o movimento do comércio local, afetando diretamente a economia da região. A feira da Cohab, que sempre foi um ponto de encontro popular e de referência para o abastecimento de alimentos, agora convive com o abandono de praças, sujeira e insegurança.
Moradores também denunciam a falta de presença policial constante e a ausência de ações sociais efetivas para o acolhimento e tratamento das pessoas em situação de dependência química.
“A polícia até passa, mas logo depois eles voltam. A gente precisa de uma ação social, de internação e acolhimento, não só de repressão”, afirmou Dona Tereza Mendes, moradora há mais de 30 anos do bairro.
A Prefeitura de São Luís e o Governo do Maranhão ainda não anunciaram medidas para enfrentar o problema. Fontes ligadas à área da saúde afirmam que as unidades de assistência social e combate às drogas estão sobrecarregadas, e que a demanda por atendimento aumentou nos últimos meses.
Especialistas em políticas públicas apontam que o fenômeno da “Cracolândia itinerante” — em que usuários migram de áreas centrais para bairros periféricos — é um reflexo da falta de uma política integrada entre segurança, saúde e assistência social.
“Não se trata apenas de um problema de segurança, mas de saúde pública. Sem uma abordagem humanizada e contínua, o que se vê é apenas a transferência do problema de um ponto da cidade para outro”, explica o sociólogo Eduardo Nascimento, da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA).
Enquanto as autoridades não apresentam um plano concreto, os moradores da Cohab vivem sob medo constante, com a sensação de que o bairro, antes pacato e familiar, se tornou refém da criminalidade e do abandono urbano.
