Juca e Judith sentados na praça João Lisboa
Manhã de domingo e a feirinha São Luís rolando. Muita gente “batendo perna” no centro histórico. Juca finalmente reaparece na praça João Lisboa, ajeita o chapéu, abre o jornal velho — só pra manter a pose — e suspira como quem voltou de uma romaria.
Judith:
— Vixe Maria, Juca, tu sumiste foi! Pensei até que tivesses sido abduzido por um ônibus da 1001!
Juca:
— Que nada, mulher! Fui em Brasília ver minha filha… e acabei foi vendo a prisão de Bolsonaro ao vivo! Pense numa viagem que rendeu. Até parece que marcaram só pra eu assistir de camarote.
Judith:
— Ave! Tu é desses que viaja e volta com história de novela. Aposto que já disseste pra todo mundo aqui no Centro que estava “em missão”.
Juca:
— Missão não, minha filha… foi coincidência mesmo. Mas e aí, o que perdi por essas bandas?
Judith cruza os braços, ajeita os óculos e dá aquele olhar de quem está com a língua coçando.
Judith:
— Pois te prepara, que enquanto tu vias polícia e confusão em Brasília, aqui em São Luís a coisa não tava diferente. Chegou na Câmara um pedido de cassação do prefeito!
Juca:
— Eita lelê! Aí é que a chapa esquenta. Quem foi que botou essa “bucha” na mão dos vereadores?
Judith:
— Os auditores fiscais do município mesmo. Disseram que o prefeito não tá cumprindo umas leis aí… e pronto: jogaram a batata quente no colo dos vereadores. E uma batata fervendo, viu? Daquelas que até o diabo sopra antes de pegar!
Juca:
— Mas rapaz…e a briga pelo Palácio?
Judith:
— Pois é! Se a Câmara mexe, arruma briga com o prefeito. Se não mexe, arruma briga com os Leões. Uma encrenca daquelas, do jeitinho que político treme as canelas.
Juca:
— Rapaz… é por isso que digo: ser vereador em São Luís é viver pisando em sabão. Um escorrega pra cá, outro pra lá… e ainda tem uns que nem aparecem na Câmara.
Judith:
— Ih, deixa pra lá, senão a gente entra noutro assunto cabeludo. Agora, eu te digo: esse pedido aí vai fazer o Palácio e a Câmara se olharem como cachorro e gato. É só esperar o próximo capítulo.
Juca:
— É novela, Judith. Novela maranhense, com muito “oxe”, “vixe” e “misericórdia”. E olha… eu que cheguei ontem já quero pipoca.
Judith:
— Pipoca? Pois se prepara, que essa temporada promete ser mais quente que as pedras da Rua Grande ao meio-dia.
Juca dá uma risada, dobra o jornal que não leu e se encosta no banco como quem sabe que ainda vai ter muito mais pra comentar.
