
Praça João Lisboa, aquele calor de lascar. Judith tá sentada no banco com a sombrinha encostada e um saco de biscoito, abanando com um leque feito de folha de babaçu. Juca chega com um copinho de suco de bacuri e uma cara de quem viu coisa errada.
JUCA (já sentando, indignado):
Judith… tu soube da última marmota, foi?
JUDITH (sem olhar, mastigando o biscoito):
Só se for mais uma do governo… porque de marmota, o Maranhão já tá graduado.
JUCA:
Pois se prepare: o governo gastou quase trinta mil real pra botar o sobrinho do governador num curso pra “aprender a ser governador”. Tu acredita?
JUDITH (quase engasga):
Oxente! Curso pra ser governador? Agora é o quê, graduação em enrolação com pós em nepotismo?
JUCA (gargalhando):
É quase isso, mulher! Deve ter aula de como cortar fita com cara de quem fez alguma coisa… e especialização em “fingir que escuta o povo sem prestar atenção!”
JUDITH:
E a cadeira de “como fazer promessa em palanque e sumir depois da eleição” deve valer uns dez créditos!
JUCA:
E ainda tem estágio supervisionado… na prefeitura do tio, claro! Onde ele aprende a sorrir e dizer “estamos estudando” pra qualquer pergunta!
JUDITH (zangada):
Tu sabe o que eu acho, Juca? Que esse curso aí devia era ser técnico… técnico em vergonha na cara!
JUCA:
Ou “Gestão de Parente 1.0”! Tu matricula um, ganha três cargos comissionados e um gabinete de brinde!
JUDITH (rindo alto):
Rapaz, no Maranhão tem mais cargo pra parente que vaga em UPA!
JUCA:
E a gente aqui, tomando suco ralo de groselha, com calor na moleira e boleto vencido… e eles fazendo curso de “Como mandar sem nunca ter ralado”.
JUDITH:
Pior que isso só se o certificado do curso vier com frase motivacional: “Se meu tio conseguiu, você também consegue!”
JUCA:
Já tô vendo ele no palanque dizendo: “Meu nome é Nepotildes Sobrinho, formado em ‘Governança Familiar Aplicada’, com mestrado em não fazer nada e salário em dólar!”
JUDITH (pegando outro biscoito):
Pois é, Juca… enquanto isso, eu aqui comendo biscoito seco, esperando o Estado me oferecer pelo menos um café!
Ambos caem na risada, enquanto um vendedor de picolé passa gritando “É de bacuri, de cajá e de desilusão política também!”