
Juca chega com um prato de bolo de milho e se senta ao lado de Judith, que já está no banco abanando o calor com seu leque. A praça tá tranquila, mas o assunto vai esquentar.
Juca (dando uma mordida no bolo):
Judith, minha irmã… tu acredita que ontem teve um jantarzão daqueles, regado a lagosta e vinho francês, só pra mostrar apoio pro sobrinho do governador?
Judith (parando o leque e erguendo a sobrancelha):
De novo essa história, Juca? Esse menino já foi nomeado até como “herdeiro oficial da cara de pau política”! Só falta botarem ele na nota de vinte reais do Maranhão.
Juca:
Uhum! E o pior, mulher: tavam aqueles deputados estaduais, tudinho, num jantar mais chique que réveillon de milionário. Dizem que até o garçom tava de terno. A comida era fina, mas a bajulação… essa sim foi de enjoar!
Judith (sarcástica):
Apoio político agora vem com sobremesa? “Quer votar no sobrinho, excelência? Pois escolha entre petit gâteau e flan de cupuaçu!”
Juca (rindo):
Rapaz, teve discurso e tudo. Um deputado levantou a taça e disse: “Esse menino tem o sangue de governador!” Eu pensei logo: então já nasceu contaminado de projeto político hereditário!
Judith (gargalhando):
Sangue político é igual a caldo de peixe estragado: uma hora azeda tudo! Esse governador, Juca, parece que não quer largar o osso nem por decreto… só muda o dono do crachá, mas o sobrenome é sempre o mesmo.
Juca:
E o sobrinho, todo cheio de pompa, parecia um pavão empalhado. Sabe aquele tipo que nunca disputou eleição, mas já anda prometendo cargo como se fosse dono do cartório?
Judith:
Aqui no Maranhão é assim: tem menino que nasce chorando, tem menino que já nasce com aliança de partido no dedo e diretoria garantida!
Juca (coçando o queixo):
O povo diz que o jantar era pra “unidade”. Mas foi tanta mão levantada, tanto tapinha nas costas, que mais parecia leilão do gado do que apoio político.
Judith:
Unidade, Juca? No Maranhão, unidade política é igual a farinha no fundo do saco: quando mexe muito, só levanta poeira!
Juca:
E olha que o menino nem tem voto ainda, mas tem apoio de meio mundo. Parece até sorteio de rifa: “Quem apoiar, ganha um carguinho e um retrato com o governador!”
Judith:
É… e o retrato ainda sai com filtro pra disfarçar o nepotismo!
Juca:
Judith, tu acha que esse sobrinho vai emplacar?
Judith (seca):
Se depender do povo, não. Mas se depender do arroz de cuxá servido no jantar, vai sim — porque ali, meu filho, teve até jornalista saindo de lá empanturrado e dizendo “excelentíssimo” com a boca cheia!
Juca:
Maranhão é terra de encantos, minha amiga. Mas às vezes, o que encanta mesmo é a cara lisa dos políticos.
Judith (levantando o leque como quem brinda):
Então que venham mais jantares, Juca. Só não esquece de me chamar no próximo… mas eu só vou se tiver camarão graúdo e um deputado pra eu dar sermão!