
O desmatamento no Brasil apresentou uma leve retração em 2024, mas os números continuam alarmantes, especialmente no Cerrado, que superou a Amazônia como o bioma mais atingido pela perda de vegetação nativa. É o que aponta o mais recente relatório do MapBiomas, divulgado nesta semana, que destaca uma mudança preocupante na dinâmica da devastação ambiental no país.
De acordo com os dados, o Brasil perdeu cerca de 1,7 milhão de hectares de vegetação nativa no último ano — uma queda em relação aos anos anteriores, mas que ainda mantém o país no topo dos índices globais de desmatamento. Desse total, o Cerrado foi responsável por mais de 50% da área desmatada, o que equivale a aproximadamente 890 mil hectares.
A situação é especialmente grave porque o Cerrado, apesar de menos conhecido internacionalmente do que a Amazônia, é um bioma crucial para a conservação da biodiversidade, além de abrigar nascentes de importantes bacias hidrográficas, como as dos rios São Francisco, Tocantins e Paraná.
Estados concentram maior parte do desmatamento
Segundo o relatório, cinco estados concentram 65% de toda a área desmatada no país: Mato Grosso, Maranhão, Pará, Bahia e Tocantins. Mato Grosso, que possui áreas tanto da Amazônia quanto do Cerrado, lidera o ranking nacional. Já a Bahia e o Maranhão têm se destacado negativamente pelo avanço da agropecuária sobre áreas nativas do Cerrado.
A expansão agrícola e a especulação fundiária continuam sendo os principais vetores do desmatamento. No Cerrado, em especial, o avanço da fronteira agrícola para cultivo de soja, milho e pastagens tem impulsionado a remoção da vegetação nativa de forma acelerada e, muitas vezes, ilegal.
Avanço das fiscalizações
Apesar da redução nos números totais, especialistas alertam que o cenário exige cautela. “A ligeira queda no desmatamento não pode ser vista como sinal de alívio. Ainda estamos perdendo vegetação nativa em um ritmo muito preocupante”, alerta Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas.
Segundo ele, medidas recentes de reforço à fiscalização ambiental e maior uso de tecnologia para monitoramento têm contribuído para a contenção da devastação em algumas regiões, principalmente na Amazônia Legal. No entanto, a pressão sobre o Cerrado cresceu justamente por conta do deslocamento de atividades ilegais para áreas onde a fiscalização ainda é mais frágil.
Desafio para a política ambiental
O relatório reacende o debate sobre a necessidade de políticas públicas mais efetivas para proteger o Cerrado, historicamente negligenciado nas estratégias de conservação nacionais. Atualmente, apenas 8% do bioma está protegido por unidades de conservação, em comparação com 46% da Amazônia.
Organizações ambientais pedem a criação de mais áreas protegidas e a aprovação de leis específicas que reconheçam a importância do Cerrado, além de incentivos à produção agropecuária sustentável.
Com a proximidade da COP30, que será realizada no Brasil em 2025, o país se vê diante do desafio de demonstrar resultados concretos na contenção do desmatamento e na transição para uma economia de baixo carbono — tarefa que exigirá, mais do que discursos, ações firmes e coordenadas.