Incêndio interrompe negociações da COP30 em Belém e põe em risco acordo climático global

As negociações da COP30, realizadas em Belém (PA), foram bruscamente interrompidas na tarde desta quinta-feira (20) após um incêndio atingir o Pavilhão dos Países da Zona Azul, local onde delegações de quase 200 nações buscavam avançar em um acordo climático global.

O incidente, controlado em cerca de seis minutos pelo Corpo de Bombeiros, deixou 13 pessoas atendidas por inalação de fumaça e provocou a evacuação de milhares de participantes, justamente no momento mais crítico das tratativas — quando se discutia a redação final do acordo climático.

Imagens de segurança mostraram que as chamas se espalharam rapidamente por uma estrutura de tecido que revestia o pavilhão. De acordo com os bombeiros, a causa provável foi um equipamento elétrico, possivelmente um micro-ondas.

🌎 Guterres pede acordo e alerta para estagnação global

Poucas horas antes do incêndio, o secretário-geral da ONU, António Guterres, fez um apelo contundente para que as nações cheguem a um consenso.

“Estou convencido de que um compromisso é possível”, declarou, pedindo flexibilidade e visão de urgência diante da escalada da crise climática.

No entanto, o rascunho preliminar de acordo, circulado discretamente pelo Brasil, não trazia um roteiro para a transição dos combustíveis fósseis, ponto considerado essencial por especialistas e países vulneráveis às mudanças climáticas.

Esse é justamente o tema mais controverso da cúpula — e o principal impasse que ameaça o sucesso da COP30.

⛽ O racha global sobre combustíveis fósseis

O debate sobre abandonar ou reduzir o uso de combustíveis fósseis dividiu profundamente os participantes:

• Países ricos e grandes nações em desenvolvimento apoiam a criação de um roteiro oficial para a transição energética;

• Grandes produtores de petróleo resistem e rejeitam qualquer menção explícita a limites ou prazos;

• Pequenos países insulares, já devastados por eventos extremos, exigem uma resposta urgente.

Sem consenso, a cúpula já havia perdido o prazo interno para fechar o acordo — inicialmente previsto para quarta-feira.

💰 Financiamento climático: outra barreira crítica

Além do impasse energético, há ainda grande resistência entre países ricos para garantir recursos suficientes para financiar:

• adaptação de países pobres,

• ações de mitigação,

• e resposta a desastres climáticos crescentes.

A proposta preliminar fala em triplicar os fundos de adaptação até 2030, mas não define de onde virá o dinheiro — se de governos, bancos de desenvolvimento ou setor privado.

“Se sairmos de Belém sem um resultado transformador, será um fracasso”, alertou Steven Victor, ministro do Meio Ambiente de Palau, país ameaçado pelo aumento do nível do mar.

A desconfiança é grande, especialmente após a promessa de US$ 300 bilhões anunciada na COP29 — promessa que, segundo países em desenvolvimento, permanece sem clareza e sem garantias.

🔥 COP30 em alerta: negociações só devem retomar hoje

Após a evacuação, as negociações presenciais só devem ser retomadas na manhã de sexta-feira, dependendo das avaliações de segurança. Nos bastidores, porém, reuniões restritas e articulações políticas seguem acontecendo.

A COP30 é considerada pelo Brasil a oportunidade-chave para transformar décadas de promessas em ações concretas, e também um teste global da capacidade dos países de cooperarem em meio a tensões geopolíticas e crises ambientais.

Com o incêndio e os impasses diplomáticos, a reta final da conferência promete ser uma das mais tensas da história das COPs.